
Um app de música em que você ouve tudo (ou quase tudo) o que quiser. E na hora que quiser! Fantástico, não? Sem dúvida, mas infelizmente não fui eu quem inventou.
Spotify não é novidade pra ninguém; originalmente lançado há cerca de 10 anos, o serviço em streaming não demorou a bombar de fãs, chegando hoje a quase 100 milhões de usuários no mundo todo. Destes, cerca de um quarto são os chamados premium: os que pagam uma mensalidade para ficarem livres das irritantes propagandas que interrompem a playlist de quem não é assinante.
Pois é, estamos num blog de publicidade e propaganda e eu chamei de irritantes os anúncios. Mas a opinião não é minha. Basta perguntar às pessoas o que elas não acham legal no Spotify e 11 entre 10 dirão “aqueles anúncios irritantes”, entre outros adjetivos nada afetuosos.
É aí que entra o real motivo deste texto: que marca gosta de ser lembrada por cortar o barato do seu público? Por interromper aquele momento de intimidade entre ouvinte e seu artista preferido?
Parênteses 1: você não acha irônico um canal que oferece seus espaços para anúncios vender a ausência deles como maior benefício pros assinantes?
Parênteses 2: pra que eu vou querer ouvir o novo lançamento de Massa Fina & Zé Reboque se nem sertanejo eu curto? O app poderia arrumar essas sugestões de acordo com o que a gente escuta, né, não?
Voltando, ninguém discute que é uma baita sacada a barganha acesso x assistir a um videozinho: “me dê 30 segundos de sua atenção que eu libero meia hora de música pra você”. Fantástico e funcional! Mas pra coisa ter chegado nesse nível, vale retrocedermos um pouquinho no tempo.
O fato é o seguinte: a propaganda como víamos desde criança tornou-se literalmente coisa do século passado. No intervalo da novela, do futebol ou da série favorita, o público não fica mais zapeando: os olhos vão para uma telinha menor, que está ali sempre à mão. Diante desse novo cenário, a gente pensa: se ninguém está nem aí pros velhos comerciais da TV, vamos aonde o consumidor está – para as redes sociais, Youtube e, claro, Spotify.
Mas é aí que mora a diferença. Se antes o controle remoto livrava a cara de quem não queria os anúncios, no caso do Spotify o ouvinte vira refém daquela inserção, sem opção de “mudar o canal”. Em tempos em que o ROI tem mais poder que o Senhor dos Anéis, a certeza de entregar a mensagem conforta qualquer cliente. Mas pode ter um custo não previsto nas planilhas. Afinal, será tão bom assim para nosso cliente ficar na constrangedora posição de estraga prazeres?
– Putz… essa propaganda de novo??? – diz um usuário.
– Cara, não aguento mais ouvir isso! – pensa o outro.
Não estou aqui pra descer a boca no app. Sou usuário, inclusive, e acho sensacional e conveniente. Só penso ser bastante prudente esse tipo de análise de veículos (sobretudo os novos) por parte das agências. Todo cliente gosta de desbravar tendências, estar na crista da onda e ter sua imagem vinculada ao que houver de mais recente. Mas lembre que teve quem pagasse 28.000 reais numa TV de plasma de 40”. É o preço da novidade.
Esse texto é do nosso redator,
Fabio Hourneaux.
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