
Antes que o tema pareça velho ou atrasado, gostaria de dizer que esperei de forma proposital para expor minha opinião e reflexão sobre o tema a seguir. Indignação e textão na internet não costumam funcionar: geralmente causam polêmicas e reviravoltas.
Faz mais de um mês que a Coca-Cola lançou a nova comunicação visual das embalagens nos mercados; como todo lançamento traz um risco, o visual novo mais chocou e desagradou do que de fato causou o efeito desejado no consumidor. Assim como todas as demais marcas que passaram por rebranding ou apresentaram algo diferente do habitual, a Coca-Cola nos tirou da zona de conforto para tentar implementar uma linguagem distinta que se adequasse aos conceitos verdadeiros e à essência da empresa. E, assim como em outras vezes, eu fui atingida no peito por uma latinha nova, estranha e torta na gôndola do supermercado. “Como assim a Coca fez isso???“
Sim, fez. E fez porque deveria. Fez porque tinha um motivo e precisava mudar. E passado mais de um mês, aqui estou defendendo a nova embalagem, de forma conceitual e mais consciente, claro. Parei para assistir à entrevista de Cris Grether – diretora global de design da Coca-Cola – em que ela fala sobre as embalagens (veja a entrevista aqui); de repente, tudo fez sentido: aquela bola estranha vermelha atrás do logotipo, aquela falta de simetria…
Sabe quando o cliente pede para adaptar uma peça vertical para um modelo bem horizontal e aí você olha e pensa: “nossa, não vai dar!”? Então. A Coca-Cola adaptou conceito e visual novos para latinhas, garrafas, cartazes, engradados, caminhões e mais um monte de outras peças no MUNDO TODO. De repente, aquele visual absurdo não soa mais como algo estranho e você se dá conta que os designers e diretores tiveram que sambar – e muito – em cima de algo que servisse para tudo e todos. Quem vê de fora acha simples, mas em se tratando de algo para consumo, devemos considerar no layout algumas informações como: ingredientes, tabela nutricional, informações de peso… e por aí vai. Fácil? Não mesmo.
Nossa, então a Coca-Cola arrasou! Como uma empresa desse porte poderia ter errado, não é? Sim, eles podem errar. Errar é humano. E uma marca pode não ser humana, mas é gerida por eles.
Resolvido o problema do visual, vamos falar de conceito. Ainda segundo a diretora da empresa, a bola atrás do logotipo foi inserida para trazer o vermelho da Coca de forma que as pessoas com necessidades especiais (ou por questão de gosto mesmo) se sintam inclusas na hora da compra. Estou comprando uma Coca original, não uma “simples Coca zero”. E essa Coca com stevia: será que é boa?
Claro que é! É uma Coca-Cola como todas as outras. Isso está evidente nas novas embalagens. Você compra uma Coca original em todos os casos e ao se aproximar da gôndola, a escolha do tipo se dá por diferenciação de cores na parte de cima das latas. Genial! A denominação aparece pequena em cima e isso faz com que todas sejam iguais de alguma forma.
Ok. Mas vocês sabiam que daltônicos enxergam alguns tons de verde e vermelho como se fosse uma cor só? A bola atrás do logotipo some e de repente, para uma parcela da sociedade, o conceito de experiência de compra não é mais válido através da cor. É claro que isso é resolvido com pequenas denominações em cima do logotipo, mas aquelas embalagens diferentes da Coca Zero, da Coca Light e da Coca com stevia, que deixavam explícitas suas diferenças, já não existem mais. Para nós isso é incrível, mas já não funciona com quem tem problemas para distinguir cores. Tenho certeza que as vendas não cairão por conta disso e que os daltônicos vão começar a ler com mais atenção as embalagens, mas… aquele conceito que era tão perfeito não funciona mais em 100% da população.
E é a esse ponto que quero chegar: será que existe algo assim tão perfeito que resolva tudo pra todo mundo? A resposta eu não sei. Mas somos designers e nosso dever é encontrar as soluções.
Esse texto é da Nossa Diretora de Arte,
Karina Matulevicius.
Leave a Reply